sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Recriação das Origens do Universo


A Recriação

Superacelerador de partículas reconstitui as origens do universo e reabre debate entre fé e ciência

A maior experiência já realizada sobre as forças fundamentais da natureza teve início ontem quando o superacelerador LHC, na Suíça, promoveu o choque de partículas subatômicas, reproduzindo as condições do universo logo após o Big Bang. O feito abre caminho para uma nova era da física, com a possibilidade da descoberta de outras matérias e, até mesmo, dimensões. Reabre ainda o debate entre fé e ciência ao recriar os primeiros momentos do Cosmos. Às 8h (horário de Brasília), os feixes de prótons que percorriam os 27 quilômetros do túnel oval subterrâneo do equipamento se chocaram a uma velocidade bem próxima à da luz, produzindo diversas partículas, A experiência será repetida pelos próximos anos com energia cada vez maior. O objetivo é estudar o produto desses choques para elucidar enigmas como a composição de 95% do universo e a existência do bóson de Higgs, também chamado de "partícula de Deus", responsável por dotar de massa tudo o que existe.


O início de uma nova era
O Globo do CERN, em Genebra, Suíça, iluminado no comecinho desta terça, onde foi recriada uma miniversão do Big Bang.

Colisão de partículas que similou o Big Bang explicará enigmas que ainda envolvem 95% do Universo

Um monitor mostra a colisão

O homem nunca esteve tão perto das origens do Universo. No maior experimento científico já feito, o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) promoveu nesta terça-feira o encontro de dois feixes de partículas subatômicas em uma energia inédita e velocidade próxima à da luz, reproduzindo o cenário do Cosmos um trilonésimo de segundo após o Big Bang. O feito, atingido às 8h (horário de Brasília), abre caminho para uma nova era da física - com a possibilidade de descoberta de novas partículas e até dimensões - e reabre o debate entre fé e ciência.
- Acabamos de mostrar o que é possível fazer ao pressionar o conhecimento sobre de onde viemos e como o Universo inicial se desenvolveu - comemora Rolf Heuer, diretor-geral do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), entidade responsável pelo LHC.
Os feixes foram lançados a uma energia de 7 trilhões de elétron volts (7 TeV), o triplo do recorde anterior, provocando cerca de 30 colisões nucleares por segundo. Estes choques - que atingem uma temperatura 100 mil vezes superior à do Sol - desencadeiam o surgimento da matéria. Seu estudo permitirá a solução de inúmeros enigmas, como a definição do que compõe 95% da massa do Universo.


Experiência reabre debate entre ciência e religião


Aproximação do homem da origem do Universo questionaria a necessidade da existência divina

O novo capítulo da física promovido nesta terça-feira - quando o encontro de dois feixes de partículas subatômicas em uma energia inédita e velocidade próxima à da luz recriou uma miniversão do Big Bang - ressuscitou um debate secular que antagoniza ciência e religião. Entre os espectadores dos primeiros momentos do Cosmos, uma corrente acredita que o homem chegou mais próximo de Deus; outra, que uma entidade superior seria desnecessária diante de avanço tão poderoso. O embate provoca reações cautelosas. O padre jesuíta Paul Schweitzer, professor de matemática da PUC-Rio, alerta que o Big Bang, da forma como é estudado pelos cientistas, não deve ser comparado à origem do mundo difundida pela religião.
- A Bíblia é uma poesia com metáforas, não deve ser interpretada de forma literal - pondera. - No passado, invocava-se Deus para explicar o que a ciência não conseguia. Isso é uma atitude fadada a falhar.
Curiosamente, a teoria da origem do Universo, da forma como é conhecida hoje, foi cunhada por um padre católico. O belga Georges Lemaître, que também era físico, escreveu, em 1927, que o Cosmos está sempre em expansão, tendo evoluído de um "átomo primitivo". Seus argumentos não conquistaram o astrônomo britânico Fred Hoyle, que acreditava em um Universo imutável. Para ridicularizar Lemaître, Hoyle apelidou a teoria do religioso de "Big Bang".

Participação do Brasil
O Brasil está entre os 85 países com representantes na equipe do LHC. Pesquisadores da Coppe/UFRJ atuaram em estudos de computação, calorimetria e filtragem de dados, além de construir circuitos para registro do choque entre prótons. A integração de cientistas possibilitou o desenvolvimento de tecnologias inéditas, como o processamento de sinais e a análise de dados.

Para críticos do equipamento, o seu funcionamento a pleno vapor poderia provocar danos significativos à atmosfera, como o surgimento de pequenos buracos negros. O alerta, no entanto, é refutado:
- Um fluxo de 7 TeV, embora tenha sido dominado pela primeira vez em laboratório, acontece diariamente na atmosfera. E, mesmo assim, não temos qualquer buraco negro por ali - assinala Novaes.

A fonte deste texto foi, majoritariamente, a manchete sobre experimento com o superacelerador LHC (Grande Colisor de Hádrons) publicada pelo Jornal O Globo do Rio de Janeiro em 31 de março de 2010.

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